Sinopse

Este livro é um elogio da tolerância, num tempo em que se multiplicam os elogios da intolerância. Não falo da tolerância como ela vulgarmente se entende, que é moleza, atitude de quem não tem convicção, e que se tornou um alvo fácil para quantos se batem pela conquista dos direitos efetivos de cada homem e de cada cultura. Falo da tolerância, antes de mais, como dispositivo estratégico, operador de consensos políticos que no plano social subordina o valor da verdade ao valor da paz. Falo da tolerância como fundamento de uma igualdade de direitos que não seja meramente formal, mas que reconheça a singularidade de cada indivíduo, possibilitando assim um espaço público onde a inclusão do diferente não passa pela sua assimilação forçada. Falo, enfim, da tolerância como lastro de razoabilidade, sobre o qual deve assentar o direito, para não cair na tentação de aprisionar os indivíduos e as comunidades numa personalidade jurídica definida de uma vez por todas, fechada a tudo quanto venha do seu exterior e ponha em causa o seu modo de ser, agir e pensar. Longe de se confundir com a mera complacência que tudo absolve, a tolerância representa um valor e, como tal, não se aplica indiscriminadamente. Existe sempre um limite, para além do qual não toleramos. Como pode a intolerância dizer-se razoável, num tempo em que a tolerância se banalizou, a ponto de se tornar uma noção consensual mas vazia? Nenhum elogio da tolerância, hoje, poderá furtar-se a esta questão.

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